
Desde o primeiro dia, lá pelos idos de 1500, quando um português da esquadra de Cabral deu um pequeno espelho a um índio nativo e recebeu, em troca, uma pepita de ouro, configurou-se uma das mais trágicas heranças culturais do Brasil. Tão arraigada que parece genética: essa mania do brasileiro de se maravilhar com tudo o que vem de fora.
Desde então, o brasileiro detém informalmente o título mundial de “o povo que melhor recebe os estrangeiros”, e isso, sem dúvida, é uma virtude.
O problema começa quando também passamos a absorver culturas, crenças e valores estrangeiros sem qualquer filtro ou análise crítica. Infelizmente, essa postura de eterno colonizado ainda marca profundamente as nossas estruturas corporativas.
Prova disso é que somos um dos maiores mercados consumidores de seminários internacionais e de palestras com gurus cujas teses revolucionárias têm prazo de validade menor que o de requeijão em copo.
E é justamente aqui que chegamos a uma questão crucial: será que as empresas brasileiras estão sendo realmente criteriosas quanto à qualidade da cultura técnica e das informações que compram a Peso de Ouro nesses cursos, palestras e summits?
É inegável que toda empresa tem como diretriz investir no treinamento da equipe para garantir competitividade, caso contrário, sua sobrevivência no mercado pode ser comprometida. O capital intelectual tornou-se um patrimônio valioso nesta era do conhecimento.
No entanto, o que ocorre com frequência, nessa busca por informação atualizada e relevante, é o encontro com modismos pirotécnicos e técnicas milagrosas disfarçadas de conteúdo sério. O perigo está justamente em não saber diferenciar uma coisa da outra.
Outro problema recorrente surge quando o profissional, após participar de um desses treinamentos, tenta aplicar dentro da empresa um modelo de negócio norte-americano, sem considerar as diferenças culturais. Muitas vezes, esses modelos foram concebidos em contextos totalmente distintos do nosso e são implementados sem a devida adaptação. O resultado é a rejeição interna e, inevitavelmente, a falha do processo.
Frequentemente sou chamado por empresas respeitáveis para reverter estragos causados por alguém ansioso para mostrar serviço e justificar o investimento feito em sua formação. No fim, esse profissional se transforma em um Cavalo de Troia involuntário.
Meu conselho é simples: antes de investir em qualquer treinamento, compare o conteúdo oferecido com o foco estratégico do negócio. Avalie o retorno do investimento com base em resultados concretos, não em promessas abstratas.
Se uma empresa deseja enviar um diretor para passar o fim de semana participando de cerimônias xamânicas a fim de desenvolver sua sensibilidade e visão holística, então esse profissional deve ser confrontado, no dia a dia, com situações que exijam exatamente essas competências.
O conteúdo do treinamento precisa estar vinculado a objetivos específicos da organização. Caso contrário, a empresa estará apenas financiando, sem nenhuma contrapartida, um novo tipo de turismo corporativo.
O que deveria ser um investimento em capacitação, ou seja, uma iniciativa para elevar o desempenho organizacional, acaba se tornando um ralo por onde escapam recursos financeiros valiosos. Nesse caso, a melhor solução é promover a conscientização dos profissionais sobre o verdadeiro significado do treinamento e o consequente compromisso com os resultados.
Denis Mello
Diretor Nexion Executive Education