
Em uma conversa recente com um executivo de marketing, ouvi a seguinte frase: “O sistema apontou como decisão mais segura.”
Independentemente do contexto, a afirmação levou-me a refletir sobre o atual fascínio e, por vezes, o domínio que essas ferramentas exercem sobre algumas pessoas. Delega-se à ferramenta a última palavra sobre decisões importantes, envolvendo estratégias e ações que quase sempre impactam diretamente os resultados das empresas.
Em alguns casos, os sistemas assumem a condição de inteligência soberana, principalmente nas definições de estratégias mercadológicas.
Acredito que uma das causas, talvez a principal, dessa transferência de responsabilidade para os “seres binários” esteja na pressão da competitividade, que, por se tornar cada vez mais aguda, leva os executivos a um estado de insegurança e aversão ao risco. Para minimizá-la, elegem-se as alternativas mais seguras apresentadas pelas ferramentas.
O sistema passa a ser uma âncora, um recurso inquestionável, uma forma de neutralizar a insegurança. Como consequência dessa escolha, ocorre o afastamento dos executivos da livre interpretação das reais oportunidades de mercado.
Evitar riscos pode significar bloquear a inovação, a criatividade, a ousadia, a construção do futuro e a percepção dos sinais emitidos pelo mercado. Passa-se a apostar na previsibilidade, ignorando que o crescimento exige, muitas vezes, a perda temporária da segurança.
A previsibilidade, como via de mão única, e a percepção do futuro baseada exclusivamente no retrovisor da história da empresa, são extremamente comprometedores para quem lidera e define estratégias. “E aqueles que somente olham para o passado ou para o presente comprometem o amanhã”, dizia John Kennedy.
No marketing, a previsibilidade reduz a chance de erros, mas também traz prejuízos e estagnação, aspectos nem sempre considerados nas avaliações de desempenho comercial. Elimina o risco, consequência inevitável em qualquer processo de mudança, e estabelece decisões padronizadas. Talvez isso explique o crescente fenômeno da “comoditização” e da “não diferenciação” das estratégias.
Enfrentar a competitividade exige mente aberta, capacidade de inovar e disposição para mudar. Exige também lideranças que pensem à frente, que busquem o desafio como motor do progresso.
Denis Mello
Diretor Nexion Executive Education